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sábado, 30 de abril de 2011

Conselhos para jovens médicos

   O texto a seguir é de autoria de Alexandre L. , médico, lutador no Dignidade Médica (facebook) bastante inspirador . Como disse ao Alexandre , gostaria muito de haver lido essas palavras enquanto cursava o sexto ano de medicina. Provavelmente evitaria certos contratempos.

   Como decidir seu futuro (ou como mudar seu futuro) – Conselhos para para jovens universários médicos
Você futuro médico que ainda está pensando em que área vai se especializar, em qual área pretende atuar, com certeza deve participar desta discussão que acontece aqui no fórum sobre o futuro da tua profissão.  Escolher nunca é fácil: muitos de nós carregam uma simpatia por determinadas áreas, o que antigamente era chamado de vocação... Mas os rumos... atuais da tua profissão não permitem muitos sonhos e quimeras em relação a estas escolhas... Você vai ser doutor/doutora e quer ser bem-sucedido? Quer trabalhar, estudar, se desenvolver, ganhar teu dinheiro... Como fazer?  

Doutores mais experientes que eu, por favor se pronunciem quando estiver errado, mas evocarei as musas para que elas me ajudem a orientar nossos futuros colegas hipocráticos (oxalá hipercríticos...).
O que eu vou dizer aqui é uma opinião, portanto para qualquer idéia subversiva ou irônica que assim lhes parecer, assumo inteiramente a responsabilidade.

Antigamente, as escolhas eram assim:  Clínica, Ginecologia, Cirurgia, Pediatria. E o que falar das subespecialidades? Puxa: tantas escolhas, algumas simpatias, algumas antipatias. Mas dentro de todas estas escolhas, você universitário primeiro deve tornar-se Médico e como tal, ainda está estudando para isto. Depois disto provavelmente pretende se especializar, ou não?  

No mundo atual parece que esta escolha da área de atuação deve ser deixada para segundo plano.
Sim senhores: vocês já tiveram aulas de administração nos cursos de graduação? Não? Como assim não está no currículo? Doutores muito mais experientes do que eu já confirmaram a importância que é conhecer administração para aprender a negociar e sobreviver no livre mercado médico, que é a selva para onde vocês serão lançados ao sair das faculdades.  Eu não vou discutir com eles – médicos mais experientes sempre tem a razão (a sua). Aqui, eles estão certos pois sabem que a medicina em sua essência é controlada como um negócio e os médicos que não entendem o sistema nunca conseguem ser independentes. Os leitores de auto-ajuda vão falar no caminho dos ratos ou podem citar algum monge executivo...  Esta é a essência da economia de mercado.
Calma doutores, sem pânico: cursos de pós-graduação na área pululam nas faculdades privadas para os interessados...
Ainda assim, vocês são pessoas que escolheram um trabalho que envolve a essência da Humanidade: o conhecimento e a comunicação (interação com o Outro – o paciente). Seja quais forem as escolhas de vocês, neste momento em que os senhores se encontram como estudantes, somos todos MÉDICOS.  Mas e na hora em que forem trabalhar? Continuemos com a exposição:

Vivemos um momento da história da humanidade que alguns historiadores descrevem como pós-modernidade.  Sem entrar em detalhes, vamos admitir que como todo novo período, novos paradigmas surgem e desbancam os antigos. Dentro de nosso micromundo que é a medicina/ a saúde no Brasil, atualmente estamos num processo de transição a qual existem basicamente três destinos para os médicos no que se refere às suas relações de trabalho
Vamos enumerá-los:

1)   Assalariados
2)   Empresários
3)   Profissionais liberais

Como veremos as categorias 1 e 2 dominam atualmente o mercado que é o futuro palco da atuação dos senhores enquanto a categoria 3 corresponde à suposta área de atuação médica por excelência mas que no momento atual tem uma existência dúbia, sob alguns aspectos até irreal-fantasmagórica dentro do paradigma atual (para não dizer que ela não existe de fato, admito que muitos colegas ainda procuram viver desta maneira – eu mesmo não sou nem assalariado nem empresário, podendo me denominar profissional liberal).
Façamos uma explanação esquemática, de modo a facilitar a compreensão:

1) Assalariados:

QUEM SÃO?

Talvez você estudante nunca tenha pensado nisto, mas é importante que saiba que a maior parte dos médicos é assalariada.  Os que estudam em universidades públicas às vezes são ensinados a pensar em preceitos caritativos e imaginem quiçá algum Albert Schweitzer atendendo gratuitamente. Não: os médicos em sua maioria ganham salários. É portanto nesta categoria que se encontram os trabalhadores médicos por excelência. Apesar de como todo trabalho, este também ser regulamentado por leis e ter portanto formas que permitiriam se definir e garantir os valores mínimos de pagamento, o que garantiria um padrão mínimo para todos os medicos no país, isto não acontece. Motivo? Simples: o médico se vê como professional liberal, independente e não sente falta de se organizar como classe. Alguns não se sindicalizam porque são  “espertões“ que querem pagar menos taxas. Outros por considerar que sindicato é coisa da  “esquerda”. Talvez tenhamos milhares de outras desculpas, mas isto torna a classe assalariada médica desunida e nesse contexto, incapaz de negociar isoladamente condições mínimas.
Como vocês irão descobrir, ser assalariado não é tão simples quanto parece. Há inúmeras categorias de assalariados e algumas siglas (que não são abreviaturas de doenças) como CLT e RPA serão usadas em muitas destas conversas entre os médicos quando falam dos bons e dos maus trabalhos assalariados. Isto é complicado...  Por exemplo, boa parte dos contratos é de prestador de serviços, o que não garante direitos trabalhistas e a maior parte dos contratos ditos CLT são de paga muito ruim, bem abaixo dos pisos sugeridos pelas federações de médicos.  Uma outra categoria, a de servidor público estatutário, seria na média melhor remunerada, mas os cargos disponíveis são em menor número, ao contrário dos cargos convencionais do funcionalismo público, estes talvez entre os piores salários dentre todas estas
categorias de assalariados que os senhores estão lendo aqui. Arre!

Você que quer só um emprego para ter um horário de trabalho normal, terá que procurar bastante para encontrar UM emprego com estas características! É quase a procura de um unicórnio… Como destrinchar este assunto? Os médicos até hoje não conseguiram e em vez de pedir ajuda para o sindicato que deveria representar os médicos ASSALARIADOS, preferem se virar sozinhos... Ou seja, não temos um plano de carreira para médico ou algo que o valha. É emprego daqui, é  “bico”  de lá... O que fazer? Se você tem que ser assalariado, sindicalize-se!

COMO FUNCIONA?

Na maior parte das vezes, recebem para trabalhar num contrato por número de horas, na qual a definição do tipo de trabalho depende dos patrões, qual seriam o estado, o dono do hospital ou do plano. Nesta condição, o médico pode realizar trabalho administrativo, de ensino, na área médica, pode ter funções periciais ou trabalhistas, mas sua remuneração não será diretamente proporcionada pelo paciente. Ou seja - a relação médico-paciente pode acontecer, mas não será ela primariamente quem vai avaliar e remunerar o médico. É por isto que algumas áreas de atuação recebem salários diferenciados.  Áreas administrativas ou periciais tendem a ser muito melhor remuneradas que áreas médicas propriamente ditas. É por isto que um diretor da Unimed ganha muito mais do que um pediatra que trabalha para a prefeitura?  Administradores geram ganhos - lucros. Pediatras oneram o sistema porque atendem devagar e não tem produtividade alta. Precisa explicar mais? O mercado age silenciosamente por detrás da paga médica assalariada. Alguém poderá se perguntar se é possível ser bom médico e assalariado. Sim é claro, principalmente se tiver um bom salário, o que não é muito comum... Mas não dá pra exigir um envolvimento muito maior do profissional que trabalha muito e ganha pouco. Ele tende a ser impessoal no seu trabalho como médico ou procurar empregos com envolvimento menor. Se é pra ganhar mal, que pelo menos não seja estressante.

POR QUE SER ASSALARIADO?

Todos sabemos como este sistema é seguro e ter um emprego é uma atitude de bom senso por garantir um tipo de segurança.  Só que se for para sobreviver disto, vai ser necessário ter vários empregos e dificilmente você conseguirá se desenvolver plenamente como bom profissional se não tiver um estímulo maior do que um salário mediocre.

COMO ME PREPARAR?

Para passar num excelente concurso público para médicos, deve-se em primeiro lugar procurar concursos que contratam indiretamente médicos. Por exemplo, do sistema judiciário, polícia federal, exército...  Não se iludam: médicos que trabalham diretamente na área médica são em geral muito mal remunerados. Vocês podem procurar no Dignidade Médica muitas "ofertas" de prefeituras com seus salários irrisórios. Um sindicato forte poderia exigir valores mínimos e ajudar os médicos neste contexto.  O governo diz que faltam médicos, mas se nos basearmos nas leis de oferta e procura, veremos que salários baixos ocorrem quando há muita oferta de material humano.  Será este o caso?  De um jeito ou de outro, há poucas vagas boas – o negócio é estudar.  E se não passar nestes cargos com bons salários, raros?  Onde trabalhar? Simples: basta aceitar baixos salários e você estará empregado. Não estou errado ou louco. É verdade! Há muitos “empregos” médicos. Alguns com concursos mais disputados que outros, mas não há falta de empregos. Em verdade há excesso deles, com médicos trabalhando em 3 ou 4 para conseguir uma paga minimamente digna...  Neste caso, as especializações médicas podem não ser muito úteis.  Você que pensa em ser MÉDICO, seja qual for a sua especialidade, tem que pesar na decisão se pretende um cargo assalariado. De fato, ser um CIRURGIÃO CARDÍACO ou outro profissional de ponta e depender de salário seria um contra-senso. Outro exemplo, para falar no trabalho clínico, o de um psiquiatra que trabalhe para uma instituição privada: quem vai ficar louco se começarem a exigir produtividade neste emprego?  Se este é o teu caminho, tente uma pós em medicina do trabalho ou em administração, se não se importar com trabalho de escritório. Vale mais ser assalariado e não atender pacientes, digo doentes. Se você repartir o ganho previsto pelo número de pacientes, você vai preferir o trabalho de escritório (aqui admito estar sendo levemente irônico).

2) Empresários:

QUEM SÃO?

Num país que é uma economia de mercado, o negócio médico foi a saída encontrada pelos pioneiros de duas ou três décadas atrás que iniciaram de facto com a medicina de grupo, acompanhando o processo de tecnificação da medicina.  Muitos médicos, os empreendedores seguiram esta vocação...  De fato, grandes hospitais, grandes clínicas, grandes serviços, muitas vezes com grandes nomes por detrás das empresas são responsáveis diretos pela sustentação da profissão de médico-empresário. Muitos seguiram este caminho por necessidade, diga-se a verdade. Professores, profissionais que lidam com alto custo, ultra-especialistas, não tem como seguir por outro caminho. Mas você não precisa ser um ícone da medicina para montar seu negócio. A maioria não é. Aqueles que são desinibidos, carismáticos, tem o tino comercial, devem optar por esta área.

COMO FUNCIONA?

Esqueçam novamente a relação médico-paciente. A Lei nº 8.078/90 define que a relação é de consumo… Logo, o que rege este area de atuação é o Mercado. Tudo embasado pela lei e com o respaldo governamental e da sociedade. Para entenderem bem como funciona… Sabem o que é administração científica?  Explico:  vão ler um livrinho do Prof. Chiavenatto sobre administração para entender qual o pensamento do sujeito que administra uma empresa.... Os médicos estão utilizando estes conceitos nas suas vidas de duas gerações para cá. Isto é a realidade recente, doutores. Nas pagas dos médicos ditos assalariados, que citamos há pouco, não temos status de médicos mas de funcionários e como tal aceitamos as regras do jogo... Por outro lado, aqui seremos donos do negócio! Vivemos numa economia de mercado, todos sabem que as clínicas privadas há muito já vivenciam esta realidade do capital. Quer ter um negócio? Aprenda a administrar ou transfira esta responsabilidade para alguém e prospere...

POR QUE SER EMPRESÁRIO?

Quer sobreviver dentro da medicina em algumas áreas de ponta? Quer ganhar dinheiro?  Sempre há esta chance mas não se iluda: de fato, na maior parte das vezes, são todos pequenos empresários se ferrando para pagar milhares de impostos e equilibrar as contas entre o parco que ganham e os custos, altíssimos.  Se você trabalha com alguma técnica, algum aparelho, este é o seu nicho, pois aparelhos tem uma produtividade mais definida que uma consulta. É mais provável que você consiga de fato administrar um negócio como esse. Alguns poucos, ou porque são muito bons ou porque são muito loucos, conseguem ganhar bastante dinheiro sim. Montar um plano de saúde por exemplo é uma grande idéia. Já são mais de 1000 no Brasil.

COMO ME PREPARAR?

Pra começar, esqueça as especialidades que lidam com gente.  Pediatras, clínicos, são todos betas ou deltas neste admirável mundo novo. Nasceram para ser funcionários assalariados. Sócios? Só se for minoritário. Contrate bons profissionais e os convença a serem sócios minoritários. Você tem que pensar grande. Se for muito bom, pode ser um cirurgião renomado, um professor universitário que só atende particulares e tem um serviço de excelência. Se for muito ruim também dá certo, desde que você esqueça de fato a medicina. Vá trabalhar com administração do negócio. Se dá dinheiro? O que o Bradesco, a Amil, a Sul América fazem aqui?!!


Assalariados ou empresários. Eis as escolhas do médico. Mas... e a terceira via? Os profissionais liberais?!?! Afinal ainda existem? Você jovem estudante que ainda pensa em ser MÉDICO... O que acha disto? Atender teus pacientes com independência, dentro destas áreas clínicas que envolvem o ato médico relacional, a consulta? Isto existe?
Alguns médicos pelo Brasil e aqui no Dignidade Médica acreditam que sim, eles existem e são viáveis, mas dentro deste modelo atual, é como acreditar em duendes e doentes ao mesmo tempo...

Vejamos então...

3)   Profissionais liberais:

QUEM SÃO?

Médicos sem outras alcunhas. Quase todo médico ao sair da universidade, inicia a sua existência profissional como um professional liberal. Deste grupo heterogêneo que persiste com esta lusão, muitos tem crenças incomuns e ultrapassadas como acreditar na relação médico-paciente, na sua independência como um bem maior para a realização do ATO MÉDICO. É verdade que neste grupo temos sim, muitos médicos idealistas, mas em sua grande maioria, médicos como nós que não se adaptam exclusivamente à condição de assalariados ou empresários.  Especialistas de áreas nobres mas comercialmente pouco lucrativas como Clínicos, Pediatras, Cirurgiões gerais, GOs que tentam sobreviver como profissionais liberais, mas normalmente também são assalariados ou agonizam como pequenos empresários que não conseguem dar lucro por não conseguir conciliar seu negócio com o seu Trabalho Médico: estes se denominam profissionais liberais, mas normalmente tem a consciência de que isto existe só parcialmente, como um nome vazio de significado. Boa parte destes profissionais atua assim porque gosta de atender pacientes. Gostam muito de sua condição de médicos. Atuam no consultório, no hospital, em centros cirúrgicos, fazem plantões mas ainda assim, sustentam seus quixotescos consultórios pois isto lhes dá tesão, motiva suas vidas. Já são vistos no presente como outsiders, excêntricos que gostam de trabalhar e... ganhar mal.  No futuro, existirão? Em sua maioria acreditam que a relação médico-paciente é a essência do seu trabalho. Quando querem discutir pagamento, entendem que é uma conversa entre dois lados, sem intermediários. Entende porque são idealistas?

COMO FUNCIONA?

Atualmente, não funciona muito bem... A verdade é que se tornou insustentável. É notório que quem tem dinheiro tem plano de saúde e quem não tem, tem o SUS... O profissional independente necessita de vínculos empregatícios para sobreviver ou tem que gerar como uma máquina um volume enorme de pacientes para conseguir pagar suas despesas como impostos, custos de aluguel, equipe, material... Alguns colegas se organizam em pequenas sociedades que repartem um consultório ou pequenos serviços de exames, o que é meu caso com a endoscopia. Funciona, mas em hipótese alguma diminui o trabalho ou aumenta muito o ganho, pois aqui o conceito de lucro é desconhecido. Não lucramos com nossos pacientes. Nestes casos, o que você trabalha é o que você ganha menos teus custos e menos o governo, que adora o fato de que médicos profissionais liberais são pessoas físicas. Impostos maiores, eis tudo... Não sobra muito.  Pelo menos temos a sensação de não estarmos sendo explorados por outros... Será?
Uma variante que foi inventada é a do cooperativismo. Na prática parece não funcionar pois os médicos que participam da cooperativa nem conseguem determinar seus ganhos! Alguns médicos acham que são profissionais liberais porque prestam serviços terceirizados de forma independente. Há controvérsias sobre o tema visto que há um intermediário e neste caso, o prestador de serviços não recebe do paciente.  Frequentemente é uma situação imposta por algum contratante que só quer vantagens em termos de impostos. Pra mim esta situação é numa versão muito otimista, uma variação do trabalho assalariado sem direitos. Seria o caso dos convênios? Eu sinceramente acredito que com o que os convênios pagam com seus sistema de tabela, estamos nos referindo a uma quarta categoria de atuação médica que se chama ESCRAVIDÃO.

POR QUE SER PROFISSIONAL LIBERAL?

Algumas pessoas insistem em dizer que nasceram para aquilo... Falam em vocação.Tem que ser assim se você quiser ser um clínico, um pediatra. Pois se como assalariado você é muito mal pago, como empresário você não tem futuro pois tua área de trabalho não dá lucro... Incrível, mas é isto mesmo. Só te sobra ser um profissional liberal... Se tua vocação é ser médico, meu filho, você viverá como um destes monstros gregos, meio médico-meio assalariado, meio médico-meio empresário. Médico puro? Está em extinção! Por isto os pediatras somem conforme a reportagem da REDE GLOBO. Os que sobrevivem no mercado como profissionais liberais são máquinas de trabalhar, abençoadas como uma capacidade sobre-humana de sobreviver aos maus-tratos, a altas cargas de trabalho e responsabilidade e ainda gostar de fazer isto... Sinceramente: querer ser médico como profissional liberal? Auto-sacrifício?!
Tem que gostar disto. Tem que gostar de atender gente, se relacionar com as pessoas e estar preparado para ajudá-las e receber esta dignidade em troca que é o honorário. E o pior é que quando falamos em honorários, tudo isto ainda é teórico. Na prática é pagamento de tabelas que desumanizam tua relação com o paciente e por isto você verá os profissionais agonizando em sua escolha pessoal, frustrados em seus sonhos de trabalho digno, sem organização por falta de representatividade política e portanto tentando sobreviver como um misto de atividades que incluem paga assalariada ou administração de um negócio comercialmente inviável.

COMO ME PREPARAR?

Para ser profissional liberal? Na situação atual?! Tem que vir pronto pra uma guerra. Você Médico, vai ter que ser guerrilheiro. Vai ter que trabalhar muito. Vai ter que estudar muito. Vai ter que se valorizar e acreditar em você e na humanidade o tempo todo. Vai ter que começar a lutar desde já no sentido de revalorizar a relação médico-paciente e modificar estes conceitos perante a sociedade e os outros colegas.  Vai ter que estar preparado para enfrentar este trabalho dando uma banana para os intermediários ou para o enriquecimento anti-ético dentro da medicina. Buscando representatividade política através da atuação individual e em grupos, exigindo melhor saúde, pensando no que é melhor para teus pacientes e para ti, batalhando para alcançar melhores condições para se viver a medicina. E se quiser dignidade no seu pagamento, vai ter que batalhar conosco por honorários justos e melhores atendimentos. Sem intermediários. Você tem certeza de que quer ser médico profissional liberal?

Terminada a explanação, fica a pergunta:

E OS PACIENTES? O que eles pensam disto? Sobre haver no mundo médicos que se entendem empresários? Ou por outro lado médicos assalariados e mal pagos, que perderam a auto-estima e a capacidade de lutar por dignidade?
Será que eles também não almejam a volta do médico independente, capaz, estudioso, com tempo e disposição para curar, com desejo de relacionar e receber sua paga justa em forma de honorário e não como um valor monetário irreal pago por terceiros?

Para os pacientes (e todos nós somos pacientes), o que importa é o bom atendimento, a solução do problema ou pelo menos a manifestação do interesse. Quando um advogado diz que a relação paciente é uma relação de consumo, ele respalda a opinião da maioria das pessoas, que está... errada. Ninguém consome nada (a não ser a saúde do médico…). A relação médico paciente é uma troca, não somente técnica mas humana. Porém neste mundo pós-moderno, as pessoas acreditam no valor monetário de tal maneira que se esquecem do Valor Real. Tanto assalariados como empresários tem esta visão prática da medicina e portanto sobrevivem melhor neste meio. Os empresários querendo que tudo fique como está e os assalariados corretamente reclamando pela paga vergonhosa, mas aceitando de cabeça baixa a realidade aparente do mundo. Mas ambos recebem pelo valor monetário e cabe a cada um pensar se vale a pena ou não. É uma ESCOLHA.

Os empresários são organizados e atuam pró-ativamente, tanto que dominam a medicina no Brasil atualmente. Os assalariados são desorganizados, em sua maioria nem sindicalizados são, o que tira boa parte do poder de negociação que os sindicatos ofereceriam.
Mas e os profissionais liberais?! Quem os defende? Quem fala pelo médico que insiste em acreditar em relação humana onde muitos vem relação de consumo?

Você pode ser médico e um pouco assalariado e/ou um pouco empresário, mas não deveria ser empresário um pouco médico ou assalariado sem os valores médicos. A medicina contruiu uma história de ética e dignidade de mais de 3000 anos. Não podemos aceitar que se jogue isto na vala só porque esta geração de médicos se encontra em desamparo.
O médico é aquele profissional que sabe que não dá pra atender em 5 minutos, mesmo que isto influa na sua produtividade ou no seu salário. Insiste em acreditar em VALOR REAL onde muitos vem somente valor monetário.

Infelizmente, ele não foi organizado até agora e esta sua independência, sua liberdade que é tão importante para benefício dos seus pacientes, é também sua fraqueza. Ele não conseguiu se unir com seus pares para mudar o rumo das coisas. Até agora.
Vamos mudar isto, jovens doutores. É hora de valorizar o que nos diferencia profissionalmente, que é o nosso VALOR. Pois daí, se você precisar ser um pouco assalariado ou um pouco empresário para sobreviver no mundo real que é este mundo monetário, não terá vergonha por se saber antes de mais nada, Médico, pois atualmente os medicos tem vergonha de si. Tem vergonha de admitir que precisam se unir e falar alto contra os sofistas e espertalhões. Contra os aproveitadores e os cínicos. O médico de verdade tem vergonha do que estão se tornando parte dos seus pares. Felizmente, há volta. Ainda há tempo. A maioria está do nosso lado.

Venha fazer parte das discussões no dignidade médica!!


Alexandre Liblik – Clínico e Gastroenterologista.